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Mostrando postagens de fevereiro, 2018

Rabo de Galo

Mais um dia. Mais um protocolo, mais uma vida ensaiada. Foram as primeiras frases que vieram à cabeça de Michela naquela manhã. Michela Carvalhaes, 30 anos, casada, rica, linda e entediada. Sim, ou será que só gente feia e pobre é que sente isso? Não, não é. Nascida Michela Romano, filha de uma tradicional família de industriais de ascendência italiana, desde cedo tivera o que todo mundo acha fundamental pra ser feliz: dinheiro. Nunca soube o que foi esperar por um presente, nunca precisou pedir duas vezes por nada. Os pais sempre fizeram questão de desde cedo lhe dar o melhor: colégios, cursos, viagens, experiências. Uma das garotas mais badaladas de São Paulo. Foi capa de revistas locais, conheceu artistas famosos. Namorou por anos o homem mais desejado da época: André Carvalhaes. O casamento foi digno das manchetes de jornais por mais de uma semana. Eles formavam o que em seu meio era considerado o "casal de ouro": ricos, bonitos e famosos. Mas naquela manhã Michela fazia...

Voyeur

Tudo é possível da janela de um arranha-céu. Você vê tantas coisas ao mesmo tempo! É impossível negar a satisfação de lidar com tantas possibilidades ao mesmo tempo. Um carro brilhando a luz do sol, uma sacola voando ao vento, um pequeno tumulto na rua... Tudo ao alcance da imaginação. Aníbal abriu a janela de seu escritório exatamente às 8 da manhã. Fazia um calor bem suportável naquele dia de sol de outono. A brisa delicada fazia um sol muito peculiar ao passar naquela altura. Seu andar estava localizado bem no meio do prédio. A vida de um advogado nem sempre é animada. Papéis, petições, ações. E mesmo para ele que tentava não levar sua profissão tão a sério às vezes era massacrante. Aquele dia, no entanto, estava peculiar. O telefone não havia tocado, a secretária não o solicitou nenhuma vez e ninguém havia lhe chamado. Ficou curioso sobre tamanha calma e foi na recepção. - Nossa... nem parece que ainda é terça-feira! A secretária sorriu com delicadeza. -Os outros ainda não che...

Cupom

A manhã começara atribulada para Marli. O salão aos sábados costumava bombar de gente e nem sempre a patroa estava de bom humor nesses dias. Ora brigava com o marido, ora com os filhos, oras com todos juntos. Mas ela ia cumprir tudo que havia prometido a si mesma: ser positiva e otimista, em qualquer situação. Assim os livros de auto-ajuda empilhados no seu criado mudo diziam. Comeu metade de um pão com presunto e queijo, sem o café, e foi pra rua. Passou a mão na maleta de manicure e apressou o passo. Não queria ver a cara de bunda da Simone pra cima dela. Havia algumas clientes marcadas para ela logo pela manhã. Mal pisou na porta do salão e uma delas chegou perto, gritando. - Como é que é? Vai me atender ou não? Marli olhou no relógio. Eram 07:57. A desgraçada não sabia que o salão começava funcionar às 8? -Vamo, vamo sim. Foi pra dentro ajeitando tudo para não tem mais problemas. Encheu a bacia com água, dispôs as toalhas, arrumou os esmaltes e buscou os apetrechos no forno ...